Marés Maternas

Um estudo sobre os impactos da maternidade na vida das mulheres

Oi! Somos a Elã

Somos a Elã Ateliê de Pesquisa e estamos felizes em apresentar nosso primeiro projeto autoral: "MARÉS MATERNAS: um estudo sobre os impactos da maternidade na vida das mulheres".
Mas, antes de navegar por essas águas, queremos nos apresentar.

Elã é emoção, calor, sentimento vivaz que motiva. É força e impulso.

A ELÃ nasceu com o intuito de ser uma empresa contemporânea que mergulha no universo do racional, mas também cultural e emocional, para desvendar o que realmente move as pessoas.

Assim como uma artesã habilidosa, tecemos pontes entre empresas e seus clientes, conectando números frios à realidade viva de seus públicos. Nós acreditamos que as emoções são a chave para entender as decisões e comportamentos humanos.

Por que a maternidade 
para o primeiro autoral?

É um tema que toca a todos, seja diretamente como as próprias mães, ou indiretamente, englobando parceires, familiares, líderes de empresas, também no âmbito de consumidores e membros da sociedade. É um universo complexo e em constante mudança e revisões, com implicações que vão além da vida familiar.

Com este estudo, queremos desvendar as nuances da maternidade moderna e oferecer insights valiosos para empresas que desejam se conectar especificamente com o público de mães de forma autêntica e eficaz.

Nossos objetivos:

Trazer à luz as necessidades, desejos e desafios das mães de hoje.
Identificar oportunidades de segmentação para que empresas possam desenvolver estratégias mais assertivas.
Qualificar as empresas para que se conectem com as mães de forma genuína e relevante.

A ELÃ Ateliê de Pesquisa está pronta para te ajudar a navegar no universo da maternidade e trazer reflexões estratégicas para a sua empresa.

Carta à leitora | leitor:

Assim como o oceano, a maternidade é um mundo cheio de mistérios e belezas. Suas águas podem ser calmas e serenas, mas também turbulentas e imprevisíveis. As mulheres, tendo elas escolhido o caminho da maternidade ou não, navegam por este mar de ambiguidades, enfrentando desafios e preconceitos, aportando em belezas e alegrias.

Neste estudo, convidamos você a mergulhar conosco nesse oceano de experiências únicas. Através de reflexões profundas, exploraremos as diferentes formas de maternar, ilustrados nos quatro modelos mentais desenvolvidos a partir dos aprendizados da pesquisa.

Para isso, conversamos com mulheres brasileiras de diversas realidades, de diferentes classes sociais e origens, que moram tanto no Brasil quanto algumas que atualmente vivem no exterior (em países como EUA, França, Alemanha). Entre mães (com filhos na infância – até 12 anos), não mães e tentantes, encontramos um mosaico de perspectivas que nos permitiu traçar um panorama da maternidade em seus diversos aspectos.

É importante destacar que este estudo não tem a pretensão de ser uma resposta sobre a maternidade. Como o próprio oceano, este tema é inesgotável e cada mulher possui sua própria bússola para navegar por suas águas. Nosso objetivo principal é oferecer mais uma contribuição para o debate, lançando luz sobre as diferentes formas de maternar e promovendo o respeito às diferenças.
Acreditamos que a maternidade é um tema que merece ser explorado com profundidade e empatia. Esperamos que este estudo possa contribuir para a construção de uma sociedade mais compreensiva e acolhedora para todas as mulheres, independentemente de suas escolhas e experiências.

Agradecemos imensamente a todas as mulheres que compartilharam suas histórias conosco, tornando este estudo possível. E a todas aquelas que se dispuseram a participarmas, por falta de tempo e sobrecarga, não conseguiram. Nós entendemos.

Convidamos vocês a embarcarem nesta jornada conosco. Que este mergulho possa ser uma experiência enriquecedora e transformadora para todos, como pessoa, marca, empresa e sociedade.

Com profunda admiração pela força e resiliência das mulheres, naveguemos neste oceano.

Por que o mar como inspiração?

Maternidade é um mar de emoções.

Com suas ondas de alegria e calmaria, como também com suas tempestades de dúvidas e desafios. O oceano, com sua vastidão e mistério, representa o potencial infinito da maternidade.

O mar é um convite para explorar novos horizontes, sonhar grande e criar o futuro das próximas gerações.

Juntos, navegaremos por este mar de emoções, descobertas e aprendizados.
Para ajudar a mergulhar nesse jornada de cabeça, segue a nossa playlist feita com músicas de todas as nossas colaboradores. Reflete um pouco os sentimentos e sensações sobre o maternar, tão particular de cada uma de nós.

Se já estiver logado no Spotify, basta dar play ao lado. Se não, você pode dar play e escutar uma prévia das músicas ou clicar na marca do Spotify para abrir o app, se logar, e acessar a playlist completa.
CAPÍTULO.1

Sentimentos
do Maternar

O processo de transformação

Para falar de sentimentos maternos, não podemos deixar de começar pela sensação de transformação relatada por nossas entrevistadas mães.
A maternidade, com suas nuances e complexidades, transcende a mera experiência de gerar e criar um filho. Ela se configura como uma jornada bastante INDIVIDUAL, moldando a mulher em sua totalidade – física e emocional.
Um dos marcos, talvez o mais importante de todo este processo, ocorre logo após o nascimento da criança: O PUERPÉRIO.
Foi traumático, foi uma desconstrução absurda. Eu senti que nasceu uma criança e morreu uma personagem que construí durante anos e anos. E ficou só a essência da essência, o cerne da minha pessoa, ou o pó da rabiola.
Famoso pelo alto desgaste físico, hormonal e pela rotina intensa de cuidados de um recém-nascido, porém, pouco reconhecido pelo tsunami de conflitos vividos em silêncio por essas mulheres.
Você tem que viver para saber o que é. Não adianta eu explicar, sabe? Antes de ser mãe, várias amigas tentaram me explicar como era. E, assim, nada do que elas falaram, nada, eu consegui absorver.
A verdade é que ninguém foi treinada para este papel!
Ninguém te prepara para fazer... A gente faz curso para administrar a empresa, faz um curso para liderar 100 mil pessoas, uma equipe. O que que seja. Você faz um curso para casamento que é de três horas e, juro, ninguém te prepara para nada em relação à maternidade. Não tem esse curso, mas deveria. A gente deveria ser formada nesse negócio, porque é muito difícil - apesar de ser extremamente prazeroso.
A gestação, apesar de um momento de alto envolvimento, cuidados e cheio de preocupações, não aparece como o real momento da concretização da maternidade. É NO PUERPÉRIO QUE ‘A MÁGICA’ ACONTECE.

É muito!

E tudo ao mesmo tempo!

São mudanças desde físicas até as mais íntimas emocionalmente que tocam a mulher neste momento:

Aspectos Físicos:

o corpo é exposto a um alto nível de estresse e de mudanças significativas – o gestar por nove meses, o parto, o vazio do corpo pós o parto, a privação de sono, a amamentação, baby blues.
Nunca vou esquecer meu primeiro puerpério. Um mês chorando, medo de fazer algo errado com ela. Exaustão. Tristeza que não sabia de onde vinha. Eu não sentia amor quando olhava, eu sentia medo.

Aspectos Emocionais | Íntimos:

do dia para a noite sua individualidade como mulher acaba. Você passa a se preocupar com outro alguém antes de si mesma. Um ser que você não conhece, não consegue controlar e do qual é totalmente responsável.
Eu fui aquela mãe que queria que o filho tivesse morrido. (Nos) primeiros 15 dias eu perguntava: o que eu fiz com a minha vida. Eu falava ”gente, eu não quero mais”. Eu entrava no banho e eu não queria sair do banho. Caos completo.
SACRIFÍCIO. É quase um sequestro do meu tempo. Sempre trabalhei muito. Era valioso o tempo que eu tinha para mim. Queria pensar em mim. Agora eu não tenho mais isso. Toma: esse tempo agora é seu, não é meu.

Aspectos Sociais:

dar conta das expectativas sociais (amar imediata e incondicionalmente, estar feliz, banho tomado e preparada para as visitas ansiosas para conhecer o neném.)
No puerpério eu não consegui falar com ninguém, as pessoas me ligavam, eu não conseguia, eu não queria falar com ninguém. Às vezes, as pessoas iam lá me visitar, e eu só queria ficar sozinha.
Eu lembro que foi meio caótico. Eu cheguei em casa, tinha muita gente na minha casa. Minha mãe, meu pai, minha irmã, meu sogro, minha sogra, meu cunhado. Aquele nenenzinho querendo mamar, eu com o meu peito todo machucado. Horrível. Horrível
Embora a intensidade e os desafios dessa transformação variem de mulher para mulher, uma coisa é certa: ninguém permanece a mesma ao adentar o universo da maternidade. É um processo de desconstrução e reconstrução, em que velhas personas são derrubadas e novas identidades emergem.

Nessa jornada, a mulher, muitas vezes, é confrontada por suas próprias experiências de infância e obrigada a revisitar seus modelos maternos (tanto os positivos, quanto os negativos). É um momento de autoconhecimento, onde traumas e bloqueios podem ser revisitados e, em algumas oportunidades, até reelaborados.

Esse retorno aos próprios modelos de infância, em alguns casos, foi relatado como uma oportunidade de reaproximação ou maior compreensão da maternidade vivida por suas próprias mães.
Todo mundo replica sua própria experiência. Você se torna mais gentil com a sua mãe, aprende a ter mais compaixão com os erros. Eu tinha uma visão reguladora da maternidade, eu era muito autocentrada para perceber o que ela abria mão por mim. Eu só conseguia ver o que ela não abria mão. Tenho cuidado hoje, porque sou parecida com ela, principalmente nas situações limite, tenho que tomar cuidado para não gritar, não voltar para esse lugar. Aprendi com ela a importância de se dedicar, cumprir os compromissos inegociáveis, a importância da presença, de ter tempo, programação, lazer.Nunca vou esquecer meu primeiro puerpério. Um mês chorando, medo de fazer algo errado com ela. Exaustão. Tristeza que não sabia de onde vinha. Eu não sentia amor quando olhava, eu sentia medo.
O negócio da minha mãe era fazer com que as coisas acontecessem. Uma máquina de fazer as coisas funcionarem. Nunca foi super afetiva. Sempre nos demos muito bem, mas é isso, não era a mãe super afetiva. Eu gostaria de ter tido um pouco mais de carinho e, hoje, faço isso com os meus filhos. Eu acho que a minha mãe não teve isso.
E pode ser uma possibilidade de autodescoberta, força e até revisitação dos próprios valores para lidar, de alguma forma, com tamanha complexidade.
A partir daquele momento, talvez eu me tornei uma outra pessoa. Eu encontrei uma força que eu achava que eu não tinha. Eu tirei forças de onde não tinha.
Ser mãe me trouxe uma força. Eu já passei por tanta coisa...
Eu acho que eu fiquei mais empática com as pessoas, de pensar assim: todo mundo tem sua jornada, todo mundo tá passando seus perrengues, todo mundo tem suas dificuldades e suas fortalezas. Não que eu virei a Madre Teresa de Calcutá, tá? Porque acho que isso não vai rolar. Mas eu acho que você passa a perceber que tem coisas mais importantes do que coisinhas que a gente dá muito holofote e dá muita atenção, muda um pouco o sentido da vida.
Portanto, uma experiência dessa magnitude, tão intensa, singular e difícil de ser explicada, inevitavelmente, pode trazer a sensação de se estar ilhada.
Maternidade para mim é parecido com aquela música do Djavan que fala assim: Só eu sei; Sabe lá; O que é não ter; E ter que ter pra dar. Eu sinto assim.

A Solidão Materna

Intrinsecamente relacionada ao processo de transformação, mas não exclusivamente, a solidão tem diferentes esferas.

É um processo solitário por natureza:

Essa primeira esfera permeia as  mudanças a nível íntimo, que não são acessíveis ao outro. Apenas aquela mulher, naquele cenário e contexto entende suas próprias angústias, às vezes, sequer ela própria se entende.  Essa sensação de incompreensão aumenta o distanciamento e dificuldade para sentir-se confortável em compartilhar o que sente e o que está sendo vivido. 
Eu não tive muito acolhimento do meu marido. Isso é uma parte que eu acho muito triste, assim. Ele trabalha e a gente tinha babá, eu acho que ele achava que estava tudo ótimo porque a gente tinha ajuda externa. Ele não acolheu muito os meus sentimentos.
Minha vontade é pedir perdão para as pessoas que eu conheço que são mães, porque eu devo ter falado umas asneiras, com certeza. E eu acho que maternidade é um túnel que você entra e você vai parar numa realidade paralela, só quem tá vivendo que sabe. Por isso que eu acho que é uma jornada muito solo e muito específica.

A falta de estrutura | rede de apoio é real:

além da solidão intrínseca ao momento de transformação da mulher em mãe, há a solidão prática, isto é, a falta de estrutura, falta de apoio familiar, a desigualdade de gênero, a cobrança social (‘escolheu ser mãe’) e até falta de ética e empatia dos profissionais da saúde.
Nesse processo de equidade, a gente assumiu muita coisa enquanto os homens permaneceram em seus papéis. Você aumentou muito a carga da mulher, e para resolver e dar conta de tudo, às vezes ela chama outras mulheres. São babás, as empregadas domésticas, que assumem várias, várias, várias responsabilidades dessa área do cuidar. As mães ou avós, para quem tem essa rede de apoio, são sempre mulheres, rede de apoio é mulher. Rede de apoio que é homem eu nunca vi, ou vi muito pouco.
Meu filho nasceu com APLV (alergia alimentar causada pelo sistema imunológico de um bebê que reage a proteínas do leite de vaca) não diagnosticado. Durante 3 meses ele berrava. O pediatra me mandou para um psiquiatra porque é normal uma criança berrar e eu que estava com problema.

O distanciamento social também pode ocorrer:

a dedicação aos cuidados do filho/a, novas prioridades e até limitações financeiras, por muitas vezes, podem colaborar para o distanciamento de amigos, familiares e até de atividades que antes lhes proporcionavam prazer.
Antes, eu ia para a praia todo final de semana, a gente alugava uma casa. Mas depois da maternidade isso mudou. O dinheiro é menor e eu tenho que pagar as contas do apartamento.
Antes de eu ter meus filhos, eu saía com minhas amigas, eu passeava bastante, eu me divertia, eu ia em bastante lugar, sabe? Agora eu só saio para passear com eles.
E não podemos deixar de citar outros tipos de solidão que afetam as mulheres que ainda não possuem filhos, mas têm o desejo de ter.

A solidão das tentantes:

nem sempre a gestação ou o processo de adoção ocorrem no tempo esperado | desejado. Pode ser uma longa jornada e tende a ser bastante solitária. Processo que pouco se divide com o mundo externo. E, além disso, vivem com a cobrança da sociedade: quando vem? Quando vem o segundo? Mas por que adotar, você já tentou? Para as tentantes biológicas, a chegada de cada menstruação, o contato com o sangue é íntimo, solitário e difícil.
É uma perda, sabe? A gente não fala sobre isso, e muita mulher, vou te falar, sofre com isso, porque não é coisa que o marido entende, sabe? Você vê a sua menstruação vindo e você não engravidou. É uma dor.
O processo (de adoção) é muito lento e moroso. Criamos muitas expectativas. Me disseram 4 anos. Então qualquer novidade já é uma surpresa ao longo do caminho. Assim, não me desanima, nem me gera muita frustração e ansiedade.

A solidão do aborto não desejado:

a solidão que acompanha um aborto não esperado é um fardo pesado e silencioso que muitas mulheres carregam. É uma experiência complexa por si só e que acaba amplificada pela falta de apoio, compreensão e acolhimento, gerando um sentimento de isolamento profundo. É muito comum a percepção social de que por não ter nascido, aquele bebê não existiu. Mas a verdade é que para aquela mulher e/ou casal, já se tratava de um filho, cercado de expectativas. A anulação deste sentimento pode ser cruel para uma mulher. É um tópico que precisa ser melhor ouvido e recebido pela sociedade.
Sentir a dor e ter perdido por mais cedo que seja na gravidez, então são coisas que a gente só consegue conversar entre mulheres, e não é todo mundo que tem uma rede de apoio de mulheres pra conversar sobre isso abertamente.
Eu sempre falei que eu teria um filho homem e eu tive. É o irmão que protege, e ele foi embora para proteger a minha filha e me proteger. Então eu tive ele e ele fez exatamente o que eu sonhei que ele faria, ele seria o irmão que a protegeria.
Ela nasceu na quarta, quando foi na sexta à noite, 11 horas da noite, eles ligaram lá na sala e avisaram que ela tinha falecido. Daí em diante, eu não conseguia ver criança na minha frente, era o problema. Eu não conseguia olhar pra bebê nenhum. As pessoas tentavam me animar, me pôr pra cima, dizer que isso acontece. Mas eu não estava preparada pra isso. Não dá para se preparar pra isso.

O Amor Imediato vs.
O Amor Construído

Em nossas conversas, nos deparamos com dois cenários relacionados ao nascimento do amor materno.
Enquanto algumas mulheres experienciam e relatam um amor instantâneo e avassalador por seus filhos no primeiro olhar (sejam filhos biológicos ou não), ou até mesmo durante a gestação, quase como um sentimento visceral, impulsionado pela conexão profunda com aquele outro ser.
Quando ele nasceu, que eu vi, eu acho que essa parte é a melhor parte do seu mundo. Quando você vê que cedeu a vida à um bebê. É uma emoção tão grande que eu não queria nem que as moças levassem ele pra outra sala.
Quando nasceu meu filho, com dez dias, quinze dias, eu escrevi um textão pra minha mãe. Falei, ‘nossa, mãe... eu não sei se você me ama igual eu amo ele, mas se for o caso... desculpa por qualquer coisa que eu possa ter feito você passar’, e até hoje ela deve sentir muito.
Outras afirmam que desenvolveram esse amor gradativamente, através do contato, cuidado e conhecimento de seus filhos. Para elas, trata-se de um processo de construção, onde o afeto se aprofunda a cada dia.
Aprendi a transformar meu medo em amor com o meu marido. Ele se apaixonou por ela imediatamente e eu fui transformando o medo em amor imitando. Um processo muito diferente com a segunda filha. A primeira já me fez amar ser mãe. Com a segunda, foi  um amor que existia por conta da primeira filha. Então meu marido me  fez amar a primeira, a primeira fez eu amar a segunda. Uma corrente.
Ambas as formas de vivenciar o amor materno são válidas e reais. Cada mulher experimenta esse sentimento de maneira única, influenciada por sua história, cultura, personalidade e contexto social.

Mesmo assim, fica claro que ainda existe uma expectativa quase geral da sociedade de que todas as mulheres se enquadrem no primeiro cenário, do amor instantâneo | instintivo, o que pode ser muito duro para aquelas que não compartilham dessa experiência. Para esse segundo grupo de mulheres, relatam que são comuns afirmações e comentários que podem fazer com que se sintam erradas, cruéis, frias ou até cheguem a questionar seu próprio potencial para o maternar.
Não é a mesma coisa pra todo mundo. Aquela mágica do ‘peguei o bebezinho na minha mão a primeira vez e tudo se transformou, aqui nasceu uma mãe’. Isso pode não acontecer pra todo mundo.  
Eu acho que não necessariamente é o romântico que todo mundo diz, aquele amor que você já está amando, tanto faz, se é o da barriga, se é o coração, eu já estou amando. Não, eu acho que é uma construção, como qualquer relacionamento, e tem gente que está mais preparada, tem gente que é pega desprevenida, e você vai aprendendo e vai construindo, eu acho que é um pouco disso. E eu acho que você tem que estar disposta, porque é um grande desafio.
A gente não sabe o que é ser mãe até acontecer. Só a mãe sabe o amor que sentimos por eles. É gostoso que dói. Gostaria que todo mundo pudesse sentir isso uma vez na vida, pelo menos por um breve momento.
Independente do caminho percorrido, há um consenso entre nossas participantes: todos os clichês são válidos na hora de explicar o sentimento pelos filhos.

Pode ter acontecido na gestação, no primeiro contato com a criança | bebê ou apenas nas primeiras palavras da criança, é fato: trata-se de uma experiência de amor diferente de tudo o que já viveram, que palavras e racionalizações não dão conta de explicar.
A gente não sabe o que é ser mãe até acontecer. Só a mãe sabe o amor que sentimos por eles. É gostoso que dói. Gostaria que todo mundo pudesse sentir isso uma vez na vida, pelo menos por um breve momento.
Ah, aqui tem que ser clichê, né? É o que é. É amor.

O Medo

Amar de forma tão intensa, dá medo! Ser inteiramente responsável por outra vida... dá muito medo! Portanto, ser mãe tem tudo a ver com o medo.

Entre as diversas emoções que permeiam o maternar, os medos e as angústias não poderiam ficar de fora.
 
Além de sentimentos naturais e presentes na jornada de muitas mulheres, pode ser, inclusive, uma das razões para optar em não seguir pelo caminho da maternidade. 

Medo do Parto:

a dor do parto, a possibilidade de complicações e a incerteza do desconhecido são medos que rondam as mulheres grávidas e não mães.
Eu tenho muitos medos. E acho que um dos medos também é a gestação. Eu tenho medo de morrer. Eu realmente acredito que nada de mal vai acontecer, mas eu tenho uma pira. Tenho uma amiga que tinha outra amiga que foi ser mãe de gêmeos e teve uma parada cardíaca e morreu. No Einstein. Cara... É meio que assim, talvez pra eu dar vida pra outra pessoa, eu corro risco de vida. E eu amo viver, que loucura.

Medo da Responsabilidade:

a responsabilidade de cuidar de outro ser humano, com todas as suas necessidades físicas e emocionais, pode ser um peso enorme para algumas mulheres.
É quase uma pirâmide de Maslow, você cuida desde necessidades muito básicas, como a segurança, alimentação, até guia-la para sua realização. 
Antes de eu ter meus filhos, eu saía com minhas amigas, eu passeava bastante, eu me divertia, eu ia em bastante lugar, sabe? Agora eu só saio para passear com eles.

Medo da Reviver Traumas da Infância:

experiências passadas ruins geram questionamentos, medos e angústias sobre o maternar. Pode reavivar sentimentos até então escondidos ou esquecidos.
Eu tive uma infância meio conturbada, o que me gerou alguns bloqueios para ser mãe. Eu meio que tive essa função desde muito cedo. Eu tenho um sobrinho que é quatro anos mais novo que eu, e eu tive que cuidar muito, não só desse sobrinho que a gente cresceu junto, mas de outros. Fui praticamente mãe mesmo. Porque eu tinha que fazer comida, tinha que levar pra creche, buscar, trocar, colocar pra dormir.
Por conta da minha experiência como filha, eu não era muito animada em ter filhos.
Eu tenho percebido que essa minha relação com a maternidade vai ser confrontada à medida que as coisas forem acontecendo porque tem muitas coisas que eu passei por cima até para me manter firme, fui criando histórias e fui passando por cima de sentimentos.

Medo de Mudanças na Vida:

a maternidade implica em mudanças drásticas na rotina, no corpo e na vida social da mulher. O medo do desconhecido e da perda de liberdade são naturais.
Romper com tudo o que eu tinha foi muito difícil. Eu era uma baita de uma patriçoca. comia fora todos os dias, fazia o que eu queria. Mudei para a cidade dele e passei a me sustentar com o dinheiro que eu tinha guardado e o salário dele que era menor que o meu. Então foi estranho.
Desenhar limites humanos, dentro do que posso. E eu quero muitas coisas. A gente tem ambições diferentes. É muito complicado encontrar o equilíbrio e abrir mão.

Medo de Sofrer:

há tantas variáveis e cenários possíveis e incontroláveis, que o sofrimento parece ser inevitável. Na busca de tentar sofrer menos, gera-se um sofrimento por tudo aquilo que não passou, mas que se pode passar. Inclusive um dos motivos para que algumas não sigam com a maternidade.
Na hora, eu acho que foi medo. Falei para o meu parceiro “acho que eu não estou pronta para ter um filho”. E para sofrer, porque se acontecer alguma coisa, eu não quero sofrer. Me deu, acho que, sabe, uma crise, eu preciso me proteger. E aí começou todo um processo de entender de onde estava vindo esse negócio e de começar a organizar meu pensamento. Tipo, porque daí veio aquele negócio, bom, existe a possibilidade de eu também não ter filho.
Eu tinha muito medo desse puerpério, de ter depressão pós-parto, eu me preparei muito para o pior durante toda a gestação. E depois disso eu ficava pensando que ia acontecer alguma coisa, nem que seja a depressão pós-parto, mas eu estava achando que alguma coisa ia acontecer.

Medos do Futuro:

a incerteza do futuro e a preocupação com o bem-estar dos filhos em um mundo cada vez mais desafiador podem gerar ansiedade.
A consequência é estar sempre preocupada. O sintoma é uma piora na ansiedade, com as crianças perdemos totalmente o controle.
Depois de mergulhar nos sentimentos relacionados ao maternar, não pudemos deixar de perceber que a ambiguidade acaba sendo uma consequência inevitável do tema.
 
Essa experiência pode ser transformadora na vida de uma mulher, redefinindo suas prioridades, valores e até identidade.
Eu era muito vaidosa, né? Eu tinha que estar impecável, com a pele impecável, com roupa bonita, hoje em dia eu nem ligo pra isso. Eu nem ligo, eu não faço minhas unhas nunca, e tá tudo bem, sabe? Eu não sofro com isso, antigamente eu sofria. Eu só fazia o que eu queria mesmo, às vezes eu falava, ’esse fim de semana eu quero dormir o dia inteiro’, eu dormia o dia inteiro, ou ’esse fim de semana eu vou sair muito’. Eu acho que o que eu mais desenvolvi em mim com a maternidade foi a paciência. Mas uma paciência que eu não sei de onde ela veio, sabe? Com tudo, com todos, com as crianças, com meu marido, com a minha casa, com as minhas próprias demandas. Eu hoje entendo que as coisas não são no meu tempo, que as pessoas podem estar vivendo batalhas, né? Então, sejam as crianças, sejam as amigas, sejam meu marido, sejam pessoas no trabalho. Eu desenvolvi muito esse lado de de compaixão com o próximo. Eu não tinha, sendo bem honesta com você.
Ao mesmo tempo, reconhecemos que o medo e a solidão também são companheiros frequentes, gerando dúvidas, inseguranças e momentos de isolamento.
 
Portanto, uma das grandes verdades sobre o maternar, se é que podemos traçar uma verdade, é que ele reside na ambiguidade contínua e inevitável de sentimentos. As mulheres experimentam simultaneamente alegria e exaustão, amor e frustração, realização e medo. Essa dualidade constante é o que torna a maternidade uma experiência tão singular, desafiadora e rica.
A maternidade é um misto de sentimentos. Ao mesmo tempo em que eu conheci um amor muito forte, que até então eu não conhecia, surreal, também descobri uma exaustão muito forte.
A partir dessa compreensão, podemos reconhecer a necessidade de apoiar e acolher as mulheres em suas diversas emoções, sem julgamentos ou expectativas irreais, sem idealizar a maternidade ou negar as dificuldades que ela apresenta. A experiência de cada mãe é única e válida, com suas alegrias e desafios coexistindo em uma complexa teia de emoções.
Talvez o que a maternidade tenha feito comigo foi despertar a minha maior coragem de tirar a casca que eu tinha colocado e abrir essa ferida. Minha filha limpa minha ferida. Minha filha é cura e a maternidade é potência. As habilidades vão vindo, as competências vão se ressignificando. Hoje eu lanço mão de coisas que eu nem sabia que eu tinha, algumas eu não tinha. Hoje eu lanço mão de ferramentas para cuidar do meu dia a dia que eu, antes, dispensava, achava secundário e, hoje, para mim são fundamentais. Não tem nada mais que eu queira na minha vida do que ter vínculo com ela, vínculo com a minha filha.
CAPÍTULO.2

Os Desafios

O Timing

As mulheres com quem falamos trouxeram uma especial discussão sobre o TIMING, ou seja, o momento certo para engravidar/ter filhos, surge como um impasse frequente. A questão do timing é um representante do Zeitgheist atual da maternidade.

A Tríade de
Preocupações

A decisão sobre o momento certo não é fácil e envolve dúvidas e incertezas. É comum que se sintam pressionadas pela sociedade ou pela família para ter filhos em um determinado momento da vida.

No geral existe uma tríade de preocupações que ronda as mulheres para encontrarem o timing ideal, principalmente relacionado à maternidade biológica...

O Relógio Biológico

talvez um dos maiores inimigos das mulheres. Conciliar todos os aspectos mencionados anteriormente dentro de um prazo, nem sempre bem estabelecido. Com o aumento da expectativa de vida e o avanço da ciência, a maternidade tardia, após os 35 anos, tem se tornado cada vez mais comum. As mulheres que optam por ter filhos mais tarde podem ter mais estabilidade profissional e financeira, mas também podem enfrentar alguns desafios, como a diminuição da fertilidade e o aumento dos riscos de complicações na gravidez. É um ponto de tensão bastante presente nas reflexões de mulheres com o desejo de  ter filho biológico.

Preocupação com Carreira e Estabilidade Financeira

muitas mulheres priorizam suas carreiras, tanto quanto os homens e a necessidade de adequação ou diminuição do ritmo pode não ser adequada ao momento vivido, mesmo com o desejo de ser mãe.

Ter um Relacionamento Adequado

estável, que compartilhe dos mesmos planos, ideais pode trazer mais segurança para a mulher que deseja ser mãe ou inviabilizar essa decisão.
Pressão social

Você fica tentando encontrar o tempo perfeito, o timing perfeito e não existe isso, né? A sociedade tá lá ‘você já tá ficando muito velha pra ter filho’ e por outro lado, ‘ah mas se você sair agora de licença, cuidado, você não vai conseguir ir trabalhar’ e, tipo... é só cobrança. E a gente se cobra, né?
Expectativa X Realidade

Quando eu era bem mais novinha, eu idealizava que com 25, 26 anos estaria casada, com apartamento, teria filho. Mas aí a vida vai acontecendo. Quando chegou, de fato, os 25 anos e a vida não estava onde eu achava que eu deveria estar, eu me afastei bastante da maternidade.
Congelamento de Óvulos

Eu fiquei por um tempo, uns dois anos, pensando se eu deveria congelar os óvulos: A sociedade traz (essa dúvida) para a vida de toda e qualquer mulher, independente do que ela pense, é uma coisa que está no nosso caminho, até por conta do relógio biológico. O homem não tem essa pressão, em qualquer fase da vida, ele decide ser pai, ele é. Mas a gente tem uma pressão que eu acho até injusta da natureza. É uma janela muito curta. A gente está muito jovem, construindo ainda a nossa personalidade, construindo carreira, descobrindo coisas. E a gente fala, putz, essa janela aqui que eu tenho. Passou, passou. Então eu passei uns dois anos, talvez três, refletindo sobre isso. Mas eu cheguei à conclusão de que eu não queria fazer o congelamento, se no caminho da minha vida surgir esse parceiro, com quem eu tenha esse desejo de ter um filho, eu vou ter. Se não surgir agora, e surgir depois que eu já não tenho essa possibilidade, para mim está tudo bem. Para muitas mulheres, é um processo doloroso também, que gera ansiedade.

A Tão Discutida Carga Mental

Dentre todos os tópicos levantados sobre a não romantização da maternidade, talvez esse seja o mais discutido, ainda assim não parece minimizar o problema.
A carga mental materna abrange uma série de preocupações que vão além das tarefas domésticas e do cuidado direto com os filhos. Envolve a organização da rotina familiar, o planejamento, a gestão do tempo, a antecipação de necessidades, a tomada de decisões e a constante vigilância do bem-estar dos membros da família.
O que mais me pegou na maternidade é a questão do Nonstop: eu não consigo tirar férias da maternidade, é muito intenso e contínuo.
Essa carga mental é frequentemente internalizada pelas mulheres, gerando exaustão, estresse, ansiedade e o altíssimo PESO DA RESPONSABILIDADE.
Eu acho que mãe tem uma força. Meu marido é maravilhoso, ele divide tudo comigo real mesmo, de casa, do meu filho, mas eu acho que tem muito assim do, ‘ah, o que você decidir eu te apoio’. Então, por mais que ele realmente apoie, realmente assuma as responsabilidades daquelas decisões, no fim, a decisão era muito minha, assim, ‘você vai querer operar ele? A minha opinião é essa, mas o que você decidir está tudo bem. Se você acha que isso é melhor, eu vou te apoiar’. Então, tem muito disso, eu senti esse peso da responsabilidade.
E claro, os fatores que contribuem para a carga mental materna, nós conhecemos bem:

Normas Sociais e Expectativas Culturais:

a sociedade ainda coloca a responsabilidade da maternidade majoritariamente sobre as mulheres, gerando a expectativa de que elas sejam a principal referência quando o assunto é o cuidado, os assuntos domésticos e dos filhos.
Mesmo eu não sendo a mãe, tem um direcional da criança para pedir comida, para fazer as coisas, não sei se por uma referência ou não. Mesmo o pai fazendo tudo isso, não sei te explicar, a dinâmica homem e mulher é diferente. Não sei se é alguma energia feminina diferente que tem que aflora, enfim.

Dupla Jornada de Trabalho:

para mulheres que trabalham fora de casa,  assumem uma dupla jornada, conciliando o trabalho profissional com as responsabilidades domésticas e maternas.
Eu tenho horror quando eu escuto alguém falar que a gente é guerreira. Eu tenho ódio porque se você tá guerreando é porque tem alguém querendo invadir seu espaço, é porque tem alguém querendo tomar um direito seu, é alguém que tá querendo cercear você de algum direito e você tá protegendo alguém que não quis vir pra guerra com você ou não pôde. Eu não quero ser guerreira ou, no mínimo, quero todo mundo lutando do meu lado. E eu tenho tido muita preguiça também de homem com discurso de ‘bato palma porque vocês são muito guerreiras’ eu falo, ‘não bata, querido começa a trabalhar no mesmo ritmo, dividindo, começa pela tua esposa, vem ser guerreiro comigo’, entendeu?

Falta de Suporte Social:

a falta de apoio familiar, social e institucional, como creches e redes de apoio, aumenta a sobrecarga das mulheres.
Na verdade, é assim, meu dia praticamente ele não começa, porque ele não acaba. Eu faço o plantão das 7 da noite às 7 da manhã, aí eu vou para casa, quando eu chego em casa, meu filho já foi para a escola, então eu já vou preparando tudo, cuidando de tudo, da casa, do que tem para fazer, até quando ele chegar eu já não ter mais nada para fazer para ter o tempo de ficar com ele, aí a gente fica das 2 até às 5 da tarde, juntos, aí eu saio de casa às 6 e meia. Praticamente não durmo.

Pressão por Perfeição:

a pressão por ser uma mulher perfeita e autônoma, presente e dedicada em todos os momentos, aquela que ‘dá conta’,  contribui para o sentimento de culpa e falta.
Eu acho que estou 100% do tempo com a carga mental de ser mãe. Esse é um assunto que eu acho que não me deixa, é uma preocupação, é uma responsabilidade onipresente na minha vida.

A Maternidade Quase Solo

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais de 11 milhões de mulheres no Brasil são mães solo.
E esse número vem crescendo nos últimos anos, com um aumento de 17% na última década.
A quantidade de crianças sem pai no registro de nascimento do Brasil, é infinitamente menor do que a quantidade de crianças sem pai no Brasil. Uma coisa é você ter filho, outra coisa é ter pai. Então, essa história é muito complexa.
A maior parte dessas mães vivem apenas com seus filhos, ou seja, sem praticamente nenhum suporte ou rede de apoio presente no dia a dia. Assumindo todas ou quase todas as responsabilidades financeiras, emocionais e de cuidado com os filhos.
O pai da minha filha ganhava muito pouco, bebia muito também, para ele, o dinheiro dele, ele fazia o que ele quisesse. Não interessava se faltavam as coisas em casa, não. Ele deixou a gente passar necessidade. Foi nesse meio tempo que eu peguei e falei assim, ’a partir de hoje eu vou mudar minha vida’. Arrumei um emprego, pus ela na escola, me separei dele e fui morar sozinha com meus dois filhos.  
Mas o conceito de maternidade solo vai além do viver apenas com os filhos, sem outro adulto junto. A maternidade solo é uma forma de parentalidade em que a mulher assume a responsabilidade integral pela criação e educação dos filhos, sem a participação direta do pai ou companheiro/a, seja por escolha, viuvez, separação ou outras circunstâncias.
Chamou nossa atenção, ao longo das conversas, que há uma maternidade quase solo muito experienciada de forma parcial (ou até integral) mesmo com um parceiro/a morando sob o mesmo teto ou em casos de possibilidade de contratação de rede de apoio profissional.
Meu marido nunca se levantou de madrugada para acolher o bebê, nunca. Às vezes eu obrigava, eu dava uns petis eu entrava no quarto e eu falava: você não vai levantar?
Maternidade é muito marcada por esse desequilíbrio parental. Foi um grande aprendizado.
Esse sentimento e realidade são consequência, como já mencionado, de uma cultura que ainda espera e deposita expectativas do cuidado familiar e doméstico exclusivamente à mulher. Questão de gênero que mesmo sendo questionada e enfrentada ainda assombra e traz consequências físicas, mentais e econômicas.
Ilusão?

Tem lá a estatística de que muitos casais se separam no primeiro ano do nascimento do filho, você começa a entender o porquê, porque a carga é muito grande. Você tem que pensar em tudo o que tem que acontecer, tudo o que tem que fazer. E aí é um troço que acaba impactando mesmo. Você caiu numa ilusão de que hoje, em 2024, as tarefas podem ser divididas 50 por 50, e aí vem a maternidade dizer, não filha, não vai, não vai porque a gente não foi criado desse jeito, a gente não tem essa cultura.
Frescura?

No começo, aquela confusão da amamentação, meu peito enchia, começava a empedrar, tinha febre. E meu marido não entendia, achava que tudo era frescura. Eu fiquei e eu me senti bem sozinha, sem apoio nenhum.
Férias?

Quando meu filho nasceu, o pai dele entendeu que eu tava de férias e que eu ia virar empregada da casa, e que eu ia ter que cuidar de tudo. Ele não estava ali me apoiando, não era cuidadoso comigo. Esse entorno foi muito difícil.

A Competitividade e a Polarização

Como consequência de uma sociedade competitiva, existe muita pressão e discussão quando o assunto é a maternidade.
Essa pressão vem de todos os lados. Desde linhas teóricas, até os famosos ‘pitacos’. Todos (todos mesmo) possuem uma opinião sobre a educação, alimentação, comportamento (os tópicos são infinitos) sobre crianças no geral e se sentem no direito de expô-la aos cuidadores, em especial às mães, gerando constrangimento, culpa, insegurança. 
Você vira mãe, parece que pendura uma plaquinha no pescoço: por favor, me dê uma opinião. Como as pessoas têm opinião pra dar e como elas querem impor a experiência delas.
As pessoas gostam muito de julgar, sendo que eu posso esconder e não contar, e não falar, mas o sentimento tá ali.
A gente é cobrada de todas as formas. Se não tem relacionamento, se não tem filhos ainda e quem decide não ter, também é cobrado.
Como consequência deste cenário, parece haver dois movimentos percebidos por nossas entrevistadas, dentro do próprio universo das mães:

A Competitividade Materna:

o quanto o filho e suas habilidades | conquistas acabam se tornando um ‘troféu’, quase uma extrapolação de quem a mulher é. Nesse contexto, a criação e o desenvolvimento das crianças se tornam um campo de batalha para muitas mulheres.
Sabe uma pressão que eu sinto como mãe? Um desconforto que eu sinto como mãe, é a competitividade materna. Nos ambientes que eu circulo, desde que ele ficou um pouquinho maior, nas escolas, e até dentro da família, eu sinto uma coisa de competitividade de ‘o meu filho é melhor nisso, o meu filho é melhor naquilo’, doentia. Éa coisa de você se realizar no seu próprio filho, mas vai muito longe.

A Polarização

parece existir uma necessidade de escolha de lados | teorias quando o assunto é a maternidade e isso pesa. Em nossas entrevistas nos deparamos com certo anseio por um DISCURSO MAIS EQUILIBRADO, menos taxativo, competitivo e polarizado, em especial entre as próprias mulheres, que possa contribuir para um maternar com maior compreensão e apoio.
Eu acho que fica, às vezes, uma briga e torcida organizada. Tem o lado das fadas encantadas e o lado das bruxas da caverna. Parece que não dá pra falar de uma forma equilibrada. Ou eu amo meu filho, mas odeio a maternidade. Ou tudo é um conto de fadas. As pessoas tratam de forma muito ambivalente. O que falta é um relato equilibrado de ser mãe. Há pouco espaço pra o que é equilibrado.  
Eu também julgo.
Eu acho que a gente teria que aprender a ter essas conversas sem julgar tanto.
É difícil, todo mundo gosta de opinar, né? Como come, vai dormir, não dorme, e os pais que dormem com os filhos.
O que estou me policiando para fazer é perguntar: posso te falar da minha situação?  Pode até ser diferente da sua opinião mas se o que você está fazendo funciona para você e se você tá bem com essa decisão, tá tudo bem!
CAPÍTULO.3

Às Margens da Maternidade

Há outros tipos de maternidade que se encontram praticamente ilhados e isolados.

Pessoas que, de alguma forma, vivem a maternidade, mas não a experienciam da forma considerada “convencional” e que navegam em mares ainda mais turbulentos. São elas:

as mães adotivas, madrastas, LGBTQIA+, mulheres PCDs, com
filhos PCDs, no espectro,

e assim por diante...
Que vivem às margens das narrativas tradicionais, enfrentando ondas enormes de preconceito e incompreensão.

Seria impossível falar sobre todas em um único estudo, é um universo tão imenso quanto o oceano, mas iremos pincelar algumas delas...

Mães Adotivas

A espera pela chegada do filho pode ser uma longa travessia, marcada pela ansiedade e incerteza. A construção do vínculo familiar se dá através de um amor paciente e dedicado, tecendo laços que transcendem a biologia.
Eu estou há mais de cinco meses e eu nem tenho o número ainda. Eu sei que pode ser um ano, podem ser quatro anos, pode não ser. Então, eu tento não pôr expectativa.
Eu acho que tanto pra maternidade tradicional de barriga quanto pra adoção que não é simples. Não é fácil, não é bonito. Mas se você tem vontade tudo vale a pena.
São inundadas com cobranças e julgamentos, principalmente quando não  se tem ou não se almeja um filho biológico. Como se a maternidade estivesse intrinsecamente ligada à reprodução, e a adoção não fosse uma escolha e sim a falta dela ou um ato de caridade.
Adoção não é caridade, adoção não é assistencialismo. Temos que desmistificar a maternidade, parentalidade através da adoção como um ato “bonito”.
Eu estava fazendo uma árvore genealógica da família, e aí, foi engraçado, engraçado não, foi triste. Comentaram do meu tio que era adotado. Aí a minha tia falou assim, não, mas ele não precisa pôr na árvore, ele foi adotado. Eu falei, tia, que horror. Se eu tiver um filho, ela sabe que eu estou na fila de adoção, você não vai pôr ele na árvore?

Madrastas

Já as Madrastas navegam em um mar de limbo e invisibilidade, um espaço indefinido entre a maternidade tradicional e a ausência de um papel formal. Essa jornada, muitas vezes solitária, é marcada por desafios que exigem muita resiliência e adaptabilidade
É um desafio você entender o papel da madrasta. Madrasta não é tia, não é vó, não é prima, não é uma conhecida que é da família e ajuda. Como existem vários papéis e vários vínculos nas famílias, madrasta é um papel, madrasta ela existe. Tem uma questão de invisibilidade muito grande dessa questão de madrasta. Você não se enxerga nas coisas, você não se vê nas coisas, você não se vê representada em temas, em conversas, em rodas sobre o maternar. Você é muito invalidada.”
Dentre os desafios estão:
Lidar com o julgamento da sociedade que rotula e estereotipa a madrasta, muitas vezes como a vilã. Também invalida seu maternar quando não há um filho biológico na relação, como se a mulher não estivesse completa ou plena.
No começo da relação, quando eu contava que ele já foi casado, sempre perguntavam: como é a relação com a ex-mulher dele? No fundo, o ser humano tem um pouco isso de a madrasta ser a mulher que roubou o marido da esposa.
Muita gente falava pra mim: mas e os seus filhos? Você vai querer ter os seus filhos? Eu falava: não, isso é minha família, eu faço e sou parte disso.
Encontrar um equilíbrio entre assumir um papel de cuidado e respeito pelos enteados, sem invadir o espaço dos pais pode ser complexo e gerar inseguranças.
Você pode ser uma pessoa que põe um ponto de vista, que ajuda numa certa situação ou numa certa questão. Mas precisa estar bem segura de si e não se sentir doída pois você também não pode invadir ou invalidar papéis que não são seus. Eu nunca tentei fazer papel de mãe.

Mães com Algum Tipo de Deficiência e Mães de Filhos com Deficiência ou no Espectro

Desbravam mares também desafiadores, enfrentando barreiras físicas, sociais e emocionais.
São obrigadas a superar limitações impostas pelos preconceitos sociais, inclusive relacionadas ao acolhimento e direitos básicos como saúde. 
Eu achava que não podia ter filhos. Por causa da diabetes, por causa do acidente que eu tive, todo mundo falava para mim que eu não poderia ter. Meu médico ortopedista, a endócrino. Eu sempre achava na minha cabeça que eu nunca ia conseguir ter filho.
Depois que engravidei eu não achava um médico para cuidar de mim, eu fui em 10 médicos. Todos falavam que era muito perigoso, que eu teria muito problema com essa gravidez.
As barreiras e julgamentos sociais podem ser potencializados, estimulando essa mulher a viver ainda mais à margem, dificultando sua progressão e até inserção no mercado de trabalho.
Quando eu descobri que meu filho era surdo e contei no trabalho, na semana seguinte eu fui mandada embora.
Eu estava fazendo uma árvore genealógica da família, e aí, foi engraçado, engraçado não, foi triste. Comentaram do meu tio que era adotado. Aí a minha tia falou assim, não, mas ele não precisa pôr na árvore, ele foi adotado. Eu falei, tia, que horror. Se eu tiver um filho, ela sabe que eu estou na fila de adoção, você não vai pôr ele na árvore?

Dupla Maternidade

Também conversamos com mulheres que, juntamente com parceiras, decidiram encarar Dupla Maternidade, na busca por esse desejo de ter filhos.
Os desafios não são menores, já que estamos todos submersos neste modelo social ainda ancorado em conceitos tradicionais e heteronormativos.
 
A dupla maternidade vem de um lugar muito consciente, pois envolve a decisão e a necessidade de se passar por algum tipo de tratamento ou procedimento para engravidar ou entrar em algum processo de adoção.
A dupla maternidade é muito diferente, porque é uma escolha muito consciente e muito ativa. Você tem que passar por um tratamento. Eu tinha isso muito certo que eu queria, que eu queria gestar, enfim, eu tinha isso muito seguro para mim, desde sempre.
A escolha por qual caminho seguir para alcançar este desejo é intrinsicamente relacionada a privilégios.

O alto custo e burocracia para fazer o processo de fertilização  legal, além da busca por um profissional qualificado e de confiança não é tarefa fácil, o que pode inviabilizar o sonho do filho biológico para casais com esse desejo ou leva-las a buscar por alternativas (como a inseminação caseira).
É racional e custa caro, você tem que ter dinheiro. Eu entendo que eu passei por um processo de muito privilégio. Eu escolhi a médica, você tem que comprar sêmen para fazer, eu escolhi o banco de sêmen, eu escolhi o doador. Eu tive esse lugar de muito privilégio, não é que eu tinha recursos sobrando, a gente teve que se organizar pra isso e tudo mais.
Eu mesma já perdi duas oportunidades de trabalho. Poxa, só porque sou mãe?! Eu tinha que levar ele no médico, tinha que chegar atrasada, às vezes. Poxa, eu não vou fazer isso só porque eu sou mãe?
O maternar da dupla maternidade, envolve encarar e educar familiares para que o processo seja respeitoso e acolhido por aqueles que também farão parte do núcleo do casal e da criança, para evitar exposição a críticas e ofensas.
Na minha casa a gente tem uma boa convivência. Mas a gente precisou conversar muito, teve muita briga.  Não dava pra eu chegar e dizer: tô grávida. Eles tinham que ir amadurecendo a ideia ao longo do caminho, eu precisava entender como é que ia ser a aceitação dessa gravidez, como é que isso seria.
E quando pensamos na dupla maternidade, não podemos deixar de mencionar o papel da mãe não-gestante, ou seja, a mulher que acompanha a gestação de sua parceira. Trata-se de um território desconhecido e talvez até um pouco ignorado, seja por complexidade, por questões de convenção e até preconceito, mas que urge por reconhecimento e legitimação.
A aceitação da mãe não-gestante é complicada. A mãe não-gestante acaba sendo ainda uma figura que as pessoas não estão acostumadas. Não é uma figura do pai, também não é uma mãe que gesta, também não é uma mãe que adotou, tem esse lugar meio desconhecido.
As Margens da Maternidade por si só renderiam um novo estudo para dar conta da profundidade e importância dos temas meramente pincelados neste capítulo.

Trazemos aqui uma mera gota de contribuição e visibilidade a alguns tipos de maternar ainda pouco explorados, mas com tanto a dizer.

Nota de Consciência

Sabemos, mas não podemos deixar de mencionar e destacar que, para além de tudo isso, há questões de classe, gênero e raça que transpassam e agravam e muito todos esses desafios relatados.
 
Uma coisa é a diretora da empresa voltar de licença maternidade, deixando a babá, deixando a empregada e estando a 15 minutos de casa. Outra coisa é assistente, é uma faxineira, que trabalha 100% operacional, que enfrenta duas horas de trânsito.
 
No Brasil, mais da metade das famílias chefiadas por mulheres com filhos vivem abaixo da linha da pobreza, segundo dados do IBGE. Esse número é ainda mais alarmante quando se trata de mulheres negras, que representam 64,4% das mães solo em situação de pobreza.
Em 2022, enquanto as mulheres dedicaram, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas, os homens gastaram 11,7 horas. As mulheres pretas ou pardas dedicaram 1,6 hora a mais por semana nessas tarefas do que as brancas.
Tudo isso impacta e dificulta qualquer tipo de equidade e avanço para essas mulheres.
 
Em média, mulheres negras ganham 41% a menos que homens brancos para o mesmo trabalho, segundo o IBGE (2022). Estudo da FGV (2023) mostra que 44,5% das mulheres negras estão em trabalhos informais, enquanto para mulheres brancas o índice é de 33%. Mulheres negras ocupam apenas 1,6% dos cargos de gerência, enquanto mulheres brancas ocupam 6,4% (Ethos, 2023).
 
Essa realidade é alarmante e aponta para a urgência de ações que visem a inclusão social e econômica dessas mulheres e suas famílias.
CAPÍTULO.4

Modelos Mentais da Maternidade

Modelos Mentais do Maternar

Apesar de todas as diferenças e singularidades, nossa análise nos conduziu a algumas características marcantes e comuns a estas mulheres mães. Com base nisso, criamos uma análise sobre os Modelos Mentais da Maternidade.

Mas, afinal, o que são os modelos mentais?

Modelo mental é um mecanismo de pensamento. Definem como o indivíduo percebe o que acontece à sua volta, como ele irá se sentir diante de determinado assunto, como ele pensa e determina alguns padrões de comportamento. Cada pessoa tem seu modelo mental, que é resultado da sua personalidade, de suas experiências e história de vida.

No caso deste estudo, o intuito é trazer uma perspectiva sobre os modelos mentais relativos ao maternar.

Para isso, precisamos começar entendendo os eixos:

Individualidade x Doação

Este é o eixo mais relacionado a traços de Personalidade da mulher, que normalmente transcendem a maternidade. É claro que TODAS possuem certo grau de individualidade ou de doação (em especial quando se trata da maternidade), mas existe uma predominância de tendências ao entender e lidar com a vida, que demonstram comportamentos mais individuais ou de maior doação. Portanto, vamos entendê-los:

Individualidade x Doação

mulheres que, no geral, demonstram maior tendência à busca por sua autonomia e liberdade em suas escolhas na vida e têm como objetivo conciliar a maternidade com seus sonhos e objetivos pessoais.

Doação

mulheres com maior tendência à dedicação ao outro como um traço de sua personalidade, não necessariamente apenas com os filhos. A maternidade entra como prioridade quase absoluta, com maior desprendimento a outros papéis | áreas da vida.

Estrutura x Fluidez

Este é o eixo relacionado a Padrões Comportamentais, em especial quando se trata do lidar com os filhos. Mais uma vez, todas as pessoas demonstram certo grau de um ou outro padrão, mas existe uma lógica predominante que normalmente conduz os comportamentos e decisões, especialmente relacionados à maternidade.

Estrutura

mulheres que priorizam a organização, a eficiência e a resolução prática dos desafios da maternidade. Possui um modus operandi mais estruturado e organizado. A estrutura lhe confere segurança e conforto para o maternar.

Fluidez

mulheres que reconhecem e abraçam a natureza complexa da maternidade, valorizando a intuição, a adaptabilidade e a flexibilidade. A fluidez confere um modus operandi mais flexível, dinâmico e criativo de acordo com os desafios da maternidade.

Com isso, chegamos aos
4 Modelos Mentais da Maternidade:

MODELO.1

Individualidade
Fluída

Evolução
Rebeldia
Ar
Sou meu próprio lar

Jací

Modelo Individualidade Fluída

Características do Maternar

Encara a maternidade como um um processo de evolução individual, mais uma faceta de sua personalidade, mas não sua definição como mulher. Encontrar o equilíbrio entre doação, mas com espaço necessário para sua individualidade e interesses é essencial. Gosta de criar novas formas de estimular os filhos, gosta de estudar e se envolver no maternar em especial em suas áreas de interesse pessoal. Não tem problema em revisar regras e mudar de planos principalmente relacionados aos seus ideais.

Deusa Representante

Jací (TUPI-GUARANI), possui AUTONOMIA E PODER sobre seu reino lunar, influenciando as marés, a caça e a pesca. Sua luz GUIA OS VIAJANTES noturnos e conecta os seres à natureza. Sua presença na noite traz SERENIDADE E PAZ, inspirando a contemplação e o respeito pela natureza.
Essência:
EXPLORADORA
REBELDE
Elemento:
AR
Talento | Luz:
INOVAÇÃO
Sombra:
PERDER O RUMO
MODELO.2

Doação
Fluída

Dedicação
Água
Fantasia
Profundidade
Reza é para quem tem fé nas lendas

Iemanjá

Modelo Doação Fluída

Características do Maternar

O cuidar é um processo que gera encantamento e envolvimento, e a maternidade se torna uma importante parte de sua personalidade. Doa-se, estuda, se propõe a criar um universo lúdico em prol do desenvolvimento e felicidade do filho/a. Aberta aos interesses e personalidade identitários da criança. Não tem problemas em revisitar padrões e regras em prol da felicidade e desenvolvimento dos filhos.

Deusa Representante

Iemanjá (AFRICANA) é a rainha das águas salgadas, PROTETORA dos pescadores e navegantes. Ela também é considerada a MÃE DE TODOS OS ORIXÁS, representando a FERTILIDADE E A CRIAÇÃO da vida.
Essência:
POSITIVIDADE
CRIATIVIDADE
Elemento:
ÁGUA
Talento | Luz:
IMAGINAÇÃO
Sombra:
PERFECCIONISMO
MODELO.3

Doação
Estruturante

Devoção
Terra
Proteção
Cuidado
Você que me faz feliz

Guan Yin

Modelo Doação Estruturante

Características do Maternar

O cuidar é um processo intrínseco de seu modo de viver. Ser mãe se torna uma importante característica do seu eu. Cria rotinas e busca por soluções adequadas para o desenvolvimento de seus filhos dentro da estrutura e dinâmicas prevalecentes na casa/núcleo familiar. Ser a grande protetora do lar traz prazer e conforto para sua vida.

Deusa Representante

Guan Yin (CHINESA) Deusa budista mais popular da China, conhecida por sua INFINITA COMPAIXÃO E DEVOÇÃO em ajudar os necessitados. Sua história se entrelaça com a DEVOÇÃO E O AFETO, oferecendo PROTEÇÃO E ORIENTAÇÃO aos seus devotos.
Essência:
EMPATIA
CUIDADORA
Elemento:
TERRA
Talento | Luz:
CONEXÃO
Sombra:
AUTO-COBRANÇA
MODELO.4

Individualidade
Estruturante

Construção
Dar conta
Fogo
Autonomia
Eu acordo cedo e me sinto ótima

Atena

Modelo Individualidade Estruturante

Características do Maternar

Encara a maternidade como um um processo de aprendizado e construção constante, mais uma faceta de sua personalidade, mas não sua definição como mulher. Conciliar a maternidade e seus demais interesses | responsabilidades é uma luta frequente. Gosta de proporcionar oportunidades para o desenvolvimento e crescimento dos filhos. Criar rotinas para o dia a dia é importante para manter-se no controle e dar conta de todas as atribuições (do maternar e demais).

Deusa Representante

Atena (GREGA) Deusa da SABEDORIA, GUERRA ESTRATÉGICA, artes e ofícios. Filha de Zeus, ela é conhecida por sua INTELIGÊNCIA, FORÇA E INDEPENDÊNCIA. Ela também é a padroeira da cidade de Atenas e SÍMBOLO DA ORDEM E DA JUSTIÇA.
Essência:
SABEDORIA
GOVERNANÇA
Elemento:
FOGO
Talento | Luz:
CONHECIMENTO
Sombra:
RIGIDEZ

Wrap-up Modelos Mentais

Individualidade

Fluidez

Jací

Modelo Individualidade Fluída
Essência:
LIBERDADE, EVOLUÇÃO
Essência:
EXPLORADORA, REBELDE
Elemento:
AR
Talento | Luz:
INOVAÇÃO
Sombra:
PERDER-SE

Atena

Modelo Individualidade Estruturante
Essência:
AUTONOMIA, CONSTRUÇÃO
Essência:
SABEDORIA, GOVERNANÇA
Elemento:
FOGO
Talento | Luz:
CONHECIMENTO
Sombra:
RIGIDEZ

Iemanjá

Modelo Doação Fluída
Essência:
DEDICAÇÃO, PROFUNDIDADE
Essência:
POSITIVIDADE, CRIATIVIDADE
Elemento:
ÁGUA
Talento | Luz:
IMAGINAÇÃO
Sombra:
PERFECCIONISMO

Guan Yin

Modelo Doação Estruturante
Essência:
DEVOÇÃO, CUIDADO
Essência:
EMPATIA, CUIDADORA
Elemento:
TERRA
Talento | Luz:
CONEXÃO
Sombra:
AUTO-COBRANÇA

Estrutura

Doação

CAPÍTULO.5

Reflexões Finais

Ao longo do Marés Maternas, exploramos nuances da maternidade moderna com seus desafios, conquistas e impactos na vida das mulheres, empresas e sociedade. Mais do que um retrato do presente, este estudo é um convite à reflexão e à ação, traçando um mapa para um futuro mais inclusivo e equitativo para as mães e suas famílias.
Você vai contratar seres humanos, você vai contratar mulheres, mulheres engravidam, mulheres têm filhos, têm responsabilidade. Como é que você vai lidar com aquilo, entendeu? Inclusive com os julgamentos?
Compreendemos que a criação de um cenário mais igualitário para as mulheres mães no mercado de trabalho representa um desafio significativo para as empresas. Obstáculos ideológicos, culturais e econômicos exigem um esforço contínuo para serem superados. No entanto, o compromisso com essa missão é essencial para o futuro das empresas.

As primeiras atitudes, como a implementação de políticas de apoio à maternidade e a promoção de uma cultura de inclusão, geram benefícios a longo prazo, para colaboradoras e organização como um todo.
Então, acho que o grande questionamento que a gente tem que levantar como RH é: a empresa tá aqui pra dar lucro. Vivemos num mundo capitalista, gostando ou não gostando, that's it. Mas, como a gente trabalha esse meio pra que as coisas sejam mais sustentáveis ao longo do tempo? Então, essas empresas que movimentam a economia do Brasil, pequenas e médias empresas, elas não necessariamente estão conseguindo fazer isso ainda. Algumas porque não acreditam, e aí é uma questão de mindset e outras porque estão tentando achar um mecanismo que faça parar em pé. Só que aí entra uma discussão do ganhar menos no curto prazo, o lucro vai ser um pouco menor no curto prazo, pra que você tenha um lucro maior no longo prazo. Então você também precisa de um reshaping das funções ali. Na verdade, a mulher tem um papel a mais na vida dela, isso não significa que ela  deixe, abandone o profissional.
Dentre políticas de apoio desejadas por nossas entrevistadas estão:

Ações que favoreçam Equidade no Cuidado Diário:

Licença materna e paterna compulsória de mesma duração;
Licença ampliada;
Quantidades de dias previstos para faltas referentes aos cuidados dos filhos (doença, reuniões escolares), para pais e mães;
Flexibilidade de horário para mães e pais.

Programas que auxiliem o Retorno Seguro ao Trabalho:

Programas governamentais de creche em tempo integral;
Creches nas empresas;
Salas para amamentação e apoio à lactância (com higiene e preservação necessárias);
Possibilidade de trabalho remoto e híbrido.
"Todo mundo tem que ser igual" não! A gente não é igual! Se não houver regras do corporativo para que todos respeitem, fica no subjetivo de cada chefe. Não funciona. E não precisa ser só maternidade. Tem gente que cuida dos pais, outros dependentes.
Quantidade x de dias por ano para serem usados quando os filhos estão doentes, tanto para pais quanto mães.
Que exemplo passa um diretor pegando apenas metade da licença paternidade? Provavelmente muitos pais nem se sentirão confortáveis de tirar o período completo.
Licença maternidade e paternidade compulsórias e de mesma duração.
As empresas têm, sim, que se movimentar de forma estrutural, intencional. Por exemplo, quantas mães não acompanham o desenvolvimento escolar porque têm medo de pedir para faltar ou pedir para não ir num período para poder participar de uma reunião escolar? Isso é uma atividade muito simples. Pega o calendário escolar do teu filho, imagina, entrega lá no RH e fala, ‘olha, esse aqui é o calendário escolar do meu filho’. Obviamente que também tem um bom senso. Eu vou de pedir para o meu marido, as do primeiro semestre ele vai, as do segundo semestre eu vou. E quando não tem marido? Está bom, ela tem que ir.
Para corroborar, alguns números a respeito, de acordo com Google Analytics e Google Trends:
Licença-maternidade e paternidade ampliadas:
Aumento de
80%
nas buscas por "licença-maternidade ampliada" nos últimos 5 anos.
Google Trends
Salas de amamentação e apoio à lactância:
Aumento de
50%
nas buscas por "salas de amamentação no trabalho" nos últimos 3 anos.
Google Trends
Jornadas de trabalho flexíveis:
Aumento de
40%
nas buscas por "jornada de trabalho flexível" nos últimos 2 anos.
Google Trends
Creche no local
de trabalho:
70%
das mães que trabalham consideram a creche no local de trabalho um fator importante na escolha de um emprego.
Google Trends
Cultura organizacional inclusiva:
Aumento de
60%
nas buscas por "cultura organizacional inclusiva" nos últimos 5 anos.
Google Trends
Por isso podemos projetar alguns benefícios para  empresas e público interno:

Empresa:

Aumento da produtividade e retenção de talentos: mães que se sentem apoiadas e valorizadas pela empresa são mais propensas a serem produtivas e permanecerem na empresa por mais tempo;
Melhoria da imagem e reputação da marca: empresas que se posicionam como aliadas das mães conquistam a admiração e o respeito do público, atraindo novos clientes e talentos;
Aumento da diversidade e inclusão: ao criar um ambiente de trabalho inclusivo para mães, as empresas promovem a diversidade de ideias e perspectivas, o que contribui para a inovação e o crescimento;
Acesso a um nicho real de mercado: mães representam um público com alto poder de consumo e necessidades específicas, que podem ser atendidas por produtos e serviços inovadores.

Público Interno:

Redução do estresse e aumento do bem-estar: mães que se sentem apoiadas pela empresa têm menos estresse e ansiedade, o que contribui para sua saúde física e mental;
Melhor conciliação entre vida pessoal e profissional: quando a empresa oferece soluções que facilitam a conciliação entre trabalho e família, as mães se sentem mais equilibradas e felizes;
Aumento do engajamento e da lealdade: mães que se sentem valorizadas pela empresa são mais propensas a se sentirem engajadas e leais à empresa.
Ao investir em soluções que apoiam a maternidade, as empresas não apenas contribuem para o bem-estar de suas colaboradoras e clientes, mas também constroem um futuro mais próspero e justo para toda a sociedade.
Qual é esse olhar que a gente tem que ampliar para que essa mãe tenha chance de competir? Porque é mais do que pensar em cota. Eu sempre brigo, não converse comigo sobre isso, eu só quero que a gente tenha chance igual de competir, porque entre um homem sair de casa, um pai sair de casa e sentar no escritório para trabalhar ou ir para uma obra trabalhar, ele enfrenta os desafios. A mãe, além dos desafios, tem os 30 cavaletes que ela tem que enfrentar até ela conseguir chegar para começar a competir. Então essa, hoje, é a minha grande angústia e minha atuação intencional.

E quanto aos nossos Modelos Mentais da Maternidade?

Há muitas oportunidades para trabalhar interesses e necessidades específicas de cada  perfil.

Neste documento, iremos oferecer alguns direcionamentos gerais adequados por modelo mental da maternidade.

Recomendações por Modelo Mental da Maternidade

Individualidade

Fluidez

Jací

Modelo Individualidade Fluída
1.
Conteúdo personalizado e inspirador.
2.
Produtos e serviços que facilitam a rotina de cuidados.
3.
Experiências que estimulem a criatividade e o desenvolvimento dos filhos.
4.
Comunicação das paixões pessoais associadas à maternidade.

Atena

Modelo Individualidade Estruturante
1.
Conteúdo inspirador e prático.
2.
Produtos e serviços que facilitam a rotina e liberam tempo para as mulheres.
3.
Experiências com fundamentos e didática que promovam o desenvolvimento dos filhos.
4.
Comunicação da maternidade consciente e equilibrada.

Iemanjá

Modelo Doação Fluída
1.
Conteúdo inspirador com protagonismo infantil.
2.
Produtos e serviços que facilitem o cuidado e a criação de um ambiente lúdico.
3.
Experiências que proporcionam aprendizado e diversão para os filhos com participação ativa da mãe.
4.
Comunicação sobre conexão profunda entre mãe filho.

Guan Yin

Modelo Doação Estruturante
1.
Conteúdo confiável e informativo.
2.
Produtos e serviços que facilitam a organização da casa e o cuidado dos filhos.
3.
Experiências que promovem o bem-estar e momentos em família.
4.
Comunicação que reforce ambiente familiar seguro.

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Temos um material executivo para ser apresentado às empresas com maiores reflexões e cases ilustrativos sobre possíveis formas de atuação para cada modelo mental proposto nesta análise.
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A ELÃ Ateliê de Pesquisa se coloca à disposição para auxiliar empresas na reflexão sobre novos produtos e serviços, bem como na construção de um ambiente de trabalho mais inclusivo e de apoio para mães e suas famílias - afinal, todos se beneficiam.

Juntos, podemos construir um futuro em que a maternidade seja entendida como a potência que é, que impulsiona o crescimento e a transformação da sociedade.
Eu tenho uma pessoa que trabalha muito próximo comigo, eu falei, ‘cara, não sei como é que você vai aguentar’. Ela falou, ‘eu tenho três filhos, eu crio sozinha. Eu aguento. Toda vez que você achar que eu não vou aguentar, eu vou aguentar’.

Recados finais, na voz de nossas incríveis colaboradoras:

"Todo mundo tem que ser igual" não! A gente não é igual! Se não houver regras do corporativo para que todos respeitem, fica no subjetivo de cada chefe. Não funciona. E não precisa ser só maternidade. Tem gente que cuida dos pais, outros dependentes. Que exemplo passa um diretor pegando apenas metade da licença paternidade? Provavelmente muitos pais nem se sentirão confortáveis de tirar o período completo. Licença maternidade e paternidade compulsórias e de mesma duração.
Acho que eu diria, sim. Vocês conseguem. Eu diria... confiem em vocês. E eu diria... Cuidem de vocês também.
Ser mãe dá bastante trabalho. Mas, aproveita. Porque é um momento único. É uma experiência muito boa. Claro, tem as suas dificuldades, mas o que eu diria pra você é aproveitar cada momento. O tempo voa.
A beleza da vida está nas diferenças. As pessoas terem desejos diferentes, personalidades, projetos diferentes. O conselho que eu daria às meninas jovens: se permitam conhecer primeiro, viver primeiro, sabe? Aí depois você manda ver se você quer ter filho, e tudo certo.
Se entregue e vai passar.
Vale muito a pena, né?
Vamos salvar o planeta, pelo amor de Deus. E criar seres humaninhos melhores, né?

Seguimos!
Obrigada.

Nosso especial agradecimento a todas e todos que colaboraram com este projeto:

Colaboradoras de Conteúdo:

Adriana Soares
Bianca Cestari
Carolina Marinho
Carolina Modaneze
Catiane Maia
Clara Kolhy
Emilie Bonadona
Janaína Mota
Juliana Valbueno
Laura Recena
Laure Bonadona
Leandra de Oliveira
Luciana Escobar
Luciana Rocha
Márcia Leite
Maria Eduarda Silveira
Marian Travassos
Marina Indelicato
Patrícia Giannini D'Angelo
Renata Romero
Sabrina Ribeiro
Tatiana Cury

Colaboradores de Execução:

Alexandre Correa
Daniel Infante
Diego Girotto
Fernanda Goto
Joás Cavalcante
Rodrigo Basichetti Martins

Idealizadoras e Responsáveis pelo Estudo:

Maisa Romero
Tássia Bittar Pires
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